terça-feira, 24 de maio de 2011

Soneto "Um mover d' olhos brando e piadoso"

     Um mover d’olhos, brando e piadoso,
     sem ver de quê; um riso brando e honesto,
     quase forçado; um doce e humilde gesto,
     de qualquer alegria duvidoso;
     um despejo quieto e vergonhoso;
     um repouso gravíssimo e modesto;
     uma pura bondade, manifesto
     indício da alma, limpo e gracioso;
     um encolhido ousar; uma brandura;
     um medo sem ter culpa; um ar sereno;
     um longo e obediente sofrimento:
     esta foi a celeste formosura
     da minha Circe, e o mágico veneno
     que pôde transformar meu pensamento.


Luís de Camões

Fonte: Manual Plural 10, Lisboa Editora

1 comentário:

  1. Amor, de significado, “Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção!; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa.”.
    Como tudo o que existe, também a definição de amor sofreu uma evolução (não muito positiva, do ponto de vista dos mais românticos) ao longo dos tempos. Desde a época camoniana que o modo como o amor é interpretado tem vindo a alterar-se.
    Camões defendia na sua poesia um amor platónico, perfeito, um amor espiritual, puro, verdadeiro … Amor este bastante contrário àquele a que assistimos presentemente. Hoje em dia, vemos que o amor vem sempre acompanhado de um desejo carnal. O amor do presente pouco tem de platónico ou de simples. O de hoje é verdadeiramente aristotélico.
    Actualmente, existe amor apenas quando existe contacto. Para alguém dos dias de hoje, o amor é perfeito quando pode ser vivido, quando pode ser transposto do coração para o real, para a aproximação, pois só assim estas pessoas podem estar certas de que o que vivem é autêntico, quando sentem que amam e que o sentimento é recíproco.

    Ana Meireles 10ºB ESV

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