terça-feira, 24 de maio de 2011

Reflexos da lírica camoniana na contemporaneidade

José Mário Branco, Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, CD, 1971

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre, tomando sempre novas qualidades.

E se todo o mundo é composto de mudança
troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança.

Continuamante vemos  novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, e do bem, (se algum houve...) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e em mim converte em choro o doce canto.
e em mim converte, e em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto:
que não se muda já como soía
que não se muda, que não se muda já como soía.



Fonte: Manual Português + 10º ano, Areal Editores

1 comentário:

  1. O Amor, o amor é algo que se escreve, escreve e não tem fim. É daqueles sentimentos que por mais que tentemos explicar, as palavras nunca são suficientes e fogem de uma maneira violenta, brusca.
    Nos tempos mais remotos, antes da época dos descobrimentos marítimos, o amor e a mulher eram como um tabu, um mistério, que transmitia uma sensação de proibição. Na época camoniana, com o descobrimento de novas ideias, sensações e culturas surge uma nova perspectiva para o amor e a figura feminina. Dentro do amor, podemos fazer duas distinções principais, o amor platónico e o amor aristotélico. O amor platónico é aquele que paira sobre o “espiritual” e que podemos confrontar no soneto “Transforma-se o amador na cousa amada” em que Camões refere a mulher como um ser que lhe “vicia “ a alma e faz com que atinja o auge do necessário para o seu corpo, sendo sempre fruto da sua imaginação. Porém, quando falamos no amor aristotélico estamos perante um ponto de vista diferente, do corpóreo e da realidade em que o amor é definido como uma figura feminina física, o observar físico daquilo que acontece, sendo que podemos ler isto no soneto “Um mover de olhos, brando e piadoso “ em que o sujeito poético descreve o seu amor, a figura feminina, através dos seus traços físicos.
    Em relação à figura feminina, esta também sofre “alterações “, porque, como já referi, devido ao evoluir das culturas passou-se a conhecer as negras, as indianas que tinham uma maneira de se comportar um pouco mais futurista do que a mulher de quem se falava anteriormente. A mulher era vista quase como um objeto em que o seu dono era o pai e depois de casar era o marido. Até no vestir, nas atitudes, tudo era muito rigoroso e controlado. A forma mais “aberta “ desta nova mulher despertou também os novos amores, neste caso aristotélicos, já que a mulher anterior apontava para o amor platónico. Mas, o que temos sempre de ter em consideração é que na época camoniana, a mulher era vista como um ser superior, quase divino de beleza inefável. Aliados a este facto estão a atitude infinitamente reverente do amante perante a senhora, o sentimento da distância que os separa, a morte por amor.
    Na medida velha, o tema retratado é levado para o sofrimento por proibição; na medida nova, há a paixão louca do”eu”, o conflito entre o amor físico e o espiritual, a idealização da mulher clássica.
    No século XXI, o amor é visto de uma forma completamente diferente, porque convive-se diariamente e isso faz com que nos conheçamos bem, conversemos e, a partir daqui, surge o tal amor que já não é restringido pelo tipo social. Qualquer homem/mulher pode amar o outro (a), porque não há níveis hierárquicos que o impeçam. O amor é visto como uma ligação entre dois seres humanos. Já não há aquela loucura e sofrimento doido por amor, uma vez que está presente a ideia de que há mais pessoas interessantes no Mundo. Ninguém se prende, porque há a noção de que a vida é curta e dura, e por isso tem de ser aproveitada da melhor maneira. Em relação aos interesses económicos, acho que as situações não se alteraram muito. Há sempre quem tenha mais poder económico, o que pode seduzir alguns. Isto hoje em dia, porque na antiguidade ricos e pobres, praticamente não tinham contato.
    Em suma o amor contemporâneo já não tem aquele “fogo” do amor retratado na época camoniana que ansia aquela sensação de loucura e perdição… Enfim,” mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (…)”

    Micaela Santos 10ºB ESV

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